ALUNO
COM TEA E SUA INCLUSÃO EM TURMA REGULAR DE ENSINO PRÉ-ESCOLAR
Maria De Fátima
Vieira Martins
RESUMO
Este artigo analisou o trabalho do
professor de turma regular de ensino e a inclusão de aluno com Transtorno do
Espectro Autista (TEA) e outras comorbidades. O trabalho produtivo do aluno vem
acompanhado de perto de professor de apoio especializado que faz as
intervenções necessárias durante as atividades. A pesquisa foi realizada numa
instituição municipal de ensino público da cidade de São Gonçalo no Estado do
Rio de Janeiro e foram utilizadas
como metodologias: observação do trabalho em sala de aula, entrevistas com
professores da rede pública e com profissionais da instituição aonde o aluno tem
acompanhamento como fisioterapia e
fonoaudiologia, além de informações dos familiares. A partir da análise,
podemos sintetizar diversos enunciados e a complexidade da inclusão em uma
escola regular de ensino. Existem três temas de grande importância para o aluno
TEA que devem ser respeitados: Construção de vínculos sócioafetivos; tempo de
aprendizagem e o tempo limite no exercício de suas atividades. Este estudo
questiona significados atribuídos ao trabalho de professores e funcionários
em relação ao aluno com TEA possibilitando pensar formas de inclusão e “exclusão” dentro do
ambiente escolar e a importância do conhecimento sobre inclusão por parte de
todos os profissionais que atuam na unidade.
Palavras-chave: Trabalho, Professor,
Inclusão, TEA.
ABSTRACT
This article analyzed the work of the regular
classroom teacher and the inclusion of students with Autism Spectrum Disorder
(ASD) and other comorbidities. The productive work of the student is accompanied
by close to a teacher of specialized support who makes the necessary
interventions during the activities. The research was carried out in a
municipal teaching institution in the state of Rio de Janeiro and were used as
methodologies: interviews with teachers in the public network and with
professionals from the institution where the student has follow-up such as
physiotherapy and phonoaudiology, in addition to family information. From the
analysis, we can synthesize several statements and the complexity of inclusion
in a regular school of education. There are three topics of great importance
for the TEA student that must be respected: Building socio-affective bonds;
learning time and time limit in the exercise of their activities. This study
questions the meanings attributed to the work of teachers and staff in relation
to the student with ASD, making it possible to think of ways of inclusion and
"exclusion" within the school environment.
Keywords: Work, Teacher, Inclusion, TEA.
Dedico este trabalho a Deus que me deu vida, saúde e
sabedoria para trabalhar com o que amo. Sou
uma professora de bem com a vida.
“Quem ensina aprende
ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
Paulo Freire
Introdução
A inspiração para
este artigo surgiu após assistir nas redes sociais um vídeo onde diversas
crianças e adolescentes com TEA mandavam recado para seus professores sobre
seus anseios, seus sintomas e deixando bem claro o que os incomodava dentro da
sala de aula regular de ensino. Fica nítido em cada fala o desabafo de cada um.
Estes pequenos
internautas vivem em seus lares e vizinhança um preconceito, mesmo que velado,
mas alguns percebem e isto, pode provocar em alguns deles uma angústia pelo
fato de perceberem que são “um pouco diferentes” dos demais, principalmente por
conta de seu comportamento fora dos padrões determinados pela sociedade em que
vivemos.
Baseada em suas falas
iniciei minha pesquisa no cotidiano escolar de um aluno com TEA, propondo
algumas questões como: Desafios em relação ao aprimoramento e preparo dos
professores e profissionais que atuam no ambiente escolar e desconhecem ou
pouco sabem sobre os alunos com NEE e, no caso específico deste artigo, alunos
com TEA. Limitei a problemática a uma escola regular de ensino de educação
infantil e ensino fundamental I que recebe em alunos especiais, desde que o
mesmo seja acompanhado de um “professor de apoio especializado”.
Nosso objetivo é
compreender a construção pedagógica por pessoas com TEA, o trabalho do
professor regente da turma e da inclusão do aluno em atividades produtivas e a
maneira como este professor interage com este aluno. Existe realmente a
inclusão? Entendemos que esta observação foi feita apenas em uma unidade, mas
com uma função. A análise não busca interpretar uma constante dentro da sala de
aula, mas sim, mostrar a necessidade de uma preparação, de uma especialização e
de uma busca maior de conhecimento por parte dos profissionais que atuam em
escolas regulares com inclusão. Dar condições de conhecimento através de
palestras, cursos e seminários torna
possível uma melhor compreensão das atitudes diferenciadas dos alunos
com TEA.
Iniciaremos apresentando
algumas características do TEA, o campo de pesquisa e as análises a partir dos
materiais produzidos nas observações e entrevistas informais e nas interações
descritas na metodologia utilizada em nosso estudo.
“A
educação é um direito de todos e é dever do Estado e da família. Será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”. Constituição de 1988.
TIPOS DE TEA E A IMPORTÂNCIA DA MEDICAÇÃO
1.
Autismo ou síndrome de
Kanner, que recebeu este nome do médico
que estudou e descreveu essa condição na década de 1930.
Neste caso, a conexão emocional com os outros é
limitada e,
na maior parte do tempo ficam imersos em seu próprio mundo, demonstrando comportamentos repetitivos, se moverem para
frente e para trás por longos períodos, além de apresentarem sensibilidade a
estímulos externos, como sons, luzes e ruídos específicos e, por outro lado
insistem no uso de certos roupas, cores ou objetos sem qualquer razão aparente.
2.
Síndrome de Asperger é o mais complicado de diagnosticar porque
esses alunos/pacientes possuem uma inteligência média (alta), seu maior déficit
está no campo das habilidades sociais e
no comportamento, o que geralmente comprometem seu desenvolvimento e integração
social e ocupacional. Apresentam deficiências na empatia, em
alguns casos má coordenação psicomotora, não compreendem ironias ou duplo
sentido da linguagem e são obcecados por certos assuntos e apresentam “ecolalia”. A disfunção dos circuitos cerebrais
afetam as amígdalas, o lobo frontal e o
cerebelo, que são cérebro envolvidas no desenvolvimento do
relacionamento social. PS: Atualmente, o nome Asperger está em desuso.
3.
Transtorno Desintegrador
da Criança, mais conhecido como Síndrome de Heller afeta
áreas da linguagem, função social e habilidades psicomotoras, mas de maneira súbita e regressiva, levando o
aluno/paciente a conhecer o problema. Podem ter um desenvolvimento normal até 2
anos, e após este período iniciam-se os sintomas. No entanto, este distúrbio é
10 a 60 vezes menos frequente do que o autismo, apesar da gravidade do seu
prognóstico
4.
Transtorno Generalizado
do Desenvolvimento não especificado. Os
sintomas clínicos apresentados são heterogêneos e não se encaixam completamente
nos três tipos anteriores, sendo assim, o diagnóstico de "transtorno
generalizado do desenvolvimento não especificado" é utilizado, ou simplesmente
TGD.
O aluno/paciente apresenta um déficit de reciprocidade social; graves
problemas de comunicação e interesse por atividades peculiares e estereotipadas.
QUANDO O
MEDICAMENTO É NECESSÁRIO?
Para reduzir o excesso comportamental como: hiperatividade,
estereótipos, psicose, distúrbios do sono, fobia,
entre outros. A dosagem deve ser acompanhada somente por parte dos
profissionais e responsáveis pelo aluno/paciente, pois os remédios trazem
progressos para a qualidade de vida da criança e/ou adolescente,
como: estímulo visual e socialização.
Segundo Sassaki,
"em princípio até então considerados incomuns, como: a aceitação das
diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da
diversidade humana e a aprendizagem através da cooperação” (Sassaki, 1997, p.
41).
O ALUNO COM TEA E
SUA CONVIVÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR
Crianças com TEA, devem ser colocadas nas escolas desde os primeiros anos
de vida para que tenham convívio com crianças que não possuem o TEA. Nem todas
as escolas que lidam bem com a inclusão, por isso o ideal é buscar um colégio
onde já exista um histórico de inclusão bem sucedida, onde os profissionais que
irão manter um contato direto com o aluno estejam realmente aptos a exercerem
este papel que para ambos é um desafio pois, a socialização, a convivência com
outros colegas pode ser prazerosa mas também pode ser um momento difícil. No
entanto, a trajetória escolar será de grande importância para o seu
desenvolvimento.
“Segundo uma
pesquisa realizada por alunos de psicologia da Universidade de São Paulo, os
mesmos concluíram que crianças que tiveram contato com outras crianças
portadoras de deficiência, desenvolveram atitudes tolerantes, respeito ao
próximo e o uso do diálogo” logo, cabe ao professor regente, ajudar o aluno com
TEA e colaborar com o professor de apoio especializado.
Alguns alunos
apresentam dificuldade de aprendizado, enquanto outros, como no caso do aluno
objeto do estudo apresenta um bom desenvolvimento na parte cognitiva, desenvolvendo
um conhecimento mais “rápido” que alguns alunos da mesma turma e mesma idade (
o mesmo reconhece as cores, os numerais de 1 a 14, reconhece as vogais e
algumas consoantes), sabe o nome de todos os colegas da turma, das professoras,
de grande parte dos funcionários da unidade escolar e pede para ir ao banheiro,
isto é, já tem controle dos esfíncteres) mas, quanto ao desenvolvimento emocional e social apresenta um atraso em
relação aos colegas. A concentração é menor e limitada ao seu tempo dificultando
assim a realização de algumas tarefas como por exemplo, ouvir a professora e
realizar o que ela está solicitando. Por exemplo: ele não fica em silêncio e
não para de se movimentar, “bate na mesa” e, repetidamente fala a mesma frase
(ecolalia), enquanto a mesma está lendo uma história infantil para que, a
partir daí, eles façam o trabalho planejado para aquele dia de aula.
Durante o período
de observação percebi que a professora regente possui pouco conhecimento em
relação a alunos com NEE, e neste caso específico com TEA, não tendo muito
traquejo ao lidar com o aluno. A mesma, mesmo sem querer, segregava o aluno em
sala de aula pois, o mesmo ficava sentado isolado com a professora de apoio
especializado em uma mesa separada dos demais alunos e quando os colegas pediam
para sentar-se ao lado dele, a mesma não permitia. Como forma de compensação o
aluno criou uma amiga “Marcele”, uma boneca que a professora de apoio
especializado colocava sobre a mesa e então o aluno fazia algumas atividades
interagindo com sua amiga inanimada substituindo assim um colega que poderia
estar interagindo com ele, mas isto era impedido pela professora regente, que
demonstrava assim um desconhecimento de como lidar “com seu aluno diferente”. A
presença da professora de apoio de certa forma também “incomodava” a professora
regente pois, a mesma demonstrava um bom conhecimento sobre alunos NEEs e a
professora regente, por se achar “superior” se constrangia com a presença da
colega e não colaborava muito quando o aluno estava mais agitado e, algumas
vezes, agressivo, apresentando um comportamento até hostil com a professora de
apoio que, nestes casos, retirava o aluno da sala de aula para que o mesmo se
acalmasse, o levando para outros ambientes como: a quadra poliesportiva, o
parquinho e para alguns espaços comuns da escola, o que de certa forma fazia
com que outros profissionais da unidade como por exemplo: o dirigente de turno,
não compreendesse a atitude da professora, demonstrando assim que, o despreparo
em relação aos alunos NEEs é uma realidade dentro do meio escolar.
Durante as aulas
de Educação Física, recreio e a hora do lanche, o aluno apresentava um
comportamento muito bom em relação a todos, inclusive cumprimentando as
funcionárias do refeitório chamando-as pelo nome; demonstrava grande alegria,
as vezes, euforia excessiva pelo fato de estar junto a outras pessoas, aos
colegas, funcionários, inspetores, e direção da escola, mas não gostava de alguns
funcionários que, de alguma maneira, ele percebia que sua presença incomodava.
Quanto aos pais,
os mesmos informaram que, após a ida do aluno para a unidade escolar, o mesmo
teve um bom desenvolvimento social, cognitivo e motor, sendo gratos a
professora de apoio especializado a quem o aluno tem grande apreço, chegando ao
ponto de, nos finais de semana, colocar o uniforme e pedir para ver a “tia
............ do colégio”.
CONCLUSÃO
O aluno com TEA tem a
necessidade de construir vínculos sociais, afetivos, educacionais que levará
para a vida adulta. Para que isto ocorra, além da participação efetiva da
família e dos profissionais envolvidos como: médicos, psicólogos,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas, entre outros, se faz urgente e necessária a
preparação, a especialização e a complementação de estudos tanto dentro das
Universidades, como dentro das unidades escolares por todos os profissionais
envolvidos na vida escolar diário do aluno NEE. A falta de preparo se torna
nítida em certos comportamentos de profissionais da área, principalmente dos
professores que estão diante desta realidade. A falta de conhecimento e o
desinteresse de alguns desses profissionais faz com que o trabalho do professor
de apoio especializado dentro da unidade escolar se torne solitário.
Por vezes, nem o profissional da sala de recursos quer dar um atendimento
melhor ao aluno com TEA por conta de suas atitudes descontroladas como pular,
rodar, repetir a mesma frase diversas vezes e sua baixa concentração.
Não quero trazer uma
conclusão, mas uma reflexão sobre o aperfeiçoamento que se faz necessário para
os profissionais que atuam na área da Educação em todos os níveis. As
faculdades de Pedagogia poderiam enfatizar mais a disciplina de Educação
Especial e as escolas deveriam promover mais palestras e seminários e até mesmo
incentivar os cursos de Capacitação na área para que todos que atuam dentro da
escola possam lidar melhor com esta realidade. O aluno especial não é diferente, ele é um ser
humano que tem potencial de aprendizagem e pode alcançar patamares maiores em
sua vida desde que haja boa vontade da parte dos profissionais envolvidos,
compreensão e principalmente conhecimento.
Referências
bibliográficas:
Brasil (1993a).
Decreto nº 914, de 06 de setembro de 1993. Institui a Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Diário Oficial da União, Seção
1, Brasília. Recuperado de https://goo.gl/H3OgKv [06 maio 2013]
Brasil (1999).
Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24
de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras
providências. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm [12 janeiro 2017]
Higashida, Naoki (2014) O que me faz pular. Japão, E-book
Oliveira, A. A. S.,
& Leite, L. P. (2002). O papel da educação especial no sistema educacional
inclusivo. Diário de Marília, Marília, 24 outubro.
Sassaki, R. K.
(1997). Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA.
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